Sina... ou sinais?
2º post de hoje, 16 de setembro,
Tenho andado muito ocupada este ano, e especialmente estes últimos meses, e fico feliz por isso, pois andei anos para ganhar a coragem de trabalhar sozinha, independente, sem patrões, e já lá vai 1 ano, a correr muito bem. Trabalho não tem faltado, embora confesso que o tempo flui demasiado rápido, a uma velocidade que até assusta...
Em agosto foi um mês de muitos contactos, novos clientes, maioritariamente emigrantes franceses. Não são propriamente o tipo de cliente que adore, talvez por ter já tido más experiências, mas nem todos somos iguais certo?
Em agosto, um dia como tantos, recebo um telefonema de um senhor, sotaque francês, que (ao que parece) já tinha falado comigo em abril, sobre a possibilidade de construir uma moradia num terreno que possuiam. Desta vez, não ficou apenas por questões e duvidas, passou do abstrato ao concreto.
No dia marcado, no local marcado, fui conhecê-los e conhecer o local. Primeira impressão, não das melhores, uma senhora de 50/60 anos, com uma criança pela mão, vestido comprido preto, sotaque francês, bonita, mas um pouco fria e arrogante nas palavras... ele, de aparente idade mais jovem (mas não), rosto sério, triste, sem esboçar qualquer expressão. Primeira abordagem feita, primeira impressão retida, e lá vim com sensação de que seria um casal indeciso, com sonhos que talvez não fossem possiveis (o normal de quem vai construir... inicialmente não tem noção de custos e se tem condições para...). Nesse mesmo dia, começo a receber dicas, pedidos, ideias, opiniões, perguntas... pelo whatsapp. Na semana seguinte, marcámos encontar-nos na sua residência, já com uma primeira ideia impressa para poder começar “a minha leitura” dos seus quereres. Pois, temos de ser pricólogos, temos de ser intuitivos...muito... para conseguirmos lêr as pessoas que estão à nossa frente. Uma casa não é uma peça de roupa que compramos hoje, mesmo que seja cara, e no próximo ano provavelmente já nem usamos, compramos outra.... não! Uma casa, para muitas pessoas, é uma vez na vida. E o meu objetivo é sempre, tentar que seja “a casa” das suas vidas.
Nem sempre é fácil, não.... nem sempre se consegue empatia, não...
Há pessoas que não gostam de nada... há pessoas que nem sabem do que gostam.... há pessoas que nem conseguem imaginar o que gostam... nada...
Mas este casal, nesse fim de dia, fez um clique. Em volta da mesa, ele... “não gosto disso, não acho jeito... é pequeno... é corredor.... “ e levanta-se e vai dar uma volta. Ela, olha para mim com olhar triste, como que se pedisse desculpa pelo comportamento dele... olhar baixo... diferente de tudo até ao momento... “sabe, preciso que me ajude... o meu marido está muito doente... o meu marido perdeu a vontade de viver.... deram-lhe poucos meses de vida, já lá vão 4 anos, mas ele sabe que não vive outros tantos... e eu preciso que você me ajude a construir esta casa para ele ainda usar antes de morrer...”, ao que eu nem tive palavras para seguir a conversa, engoli em seco, e saiu-me “claro que vou ajudar, vai correr tudo bem, vamos conseguir”, e ela... “ele não quer falar disto, ele não tem vontade de pensar sequer se gosta...”. Minutos depois ele chega e senta-se novamente, olha para os desenhos sobre a mesa... e pergunta “quanto tempo demora isso até eu poder construir?”, eu... “a correr bem, 6 meses”... ao que ele me responde, de olhar vazio, frio, triste como nunca vi um olhar assim... “Já não vai ser para mim”. Ui... custou-me, muito, dar seguimento à conversa, cortar o gelo do momento...
Eu, com tantos clientes à frente destes, como não dou prioridade? É justo para com os restantes? Não, claro que não... mas porque razão me veio “cair” nas mãos uma casal desesperado? Com sonhos a realizar num curto espaço de tempo? Porque me acontece isto sempre? Haverá alguma razão... e se há... é porque tinha de ser eu.