Falta de tempo
Tem dias em que acho que sou incompreendida, desvalorizada, escrava da casa e de todos...
Acordo com os gemidos da bebé que continua aflita dos intestinos, levanto-me meia a cambalear por acordar meia dúzia de vezes durante a noite para ir buscar o leite, para mudar uma fralda, para simplesmente acalmar o choro repentino... muitas vezes com a sensação que nem estou bem acordada.
Trago o leite de imediato para que ela não chore muito para não acordar toda a gente, afinal é feriado, podem dormir mais um bocadinho. Ela não acalma levo-a para a sala. Aparece de imediato o maninho que acordou. Depois o pai. E vão para o quarto brincar.
Com a bebé no colo, faço o pequeno almoço e como. Ela chora muito, desde a cirurgia só quer colo.
Preparo tudo para ir às compras, mas deixo a bebé com leitinho tomado e a dormir, para que o pai não tenha muito trabalho... levo o mais velho comigo para não incomodar.
Chego, é hora de almoço, mas ninguém quer saber, ninguém pega na bebé para eu fazer alguma coisa para almoçar, ninguém. Sei que talvez seja eu que sou demasiado complicada, mas sinto quase sempre o mesmo... é tudo comigo... a roupa... lavar, estender, colher, dobrar, passar.... a comida... o que fazer, como fazer, quando fazer... as actividades do menino, as roupas para preparar para o dia seguinte, os trabalhos de casa.... e o meu trabalho? E os compromissos que assumi com o meu colega em ajudar nalguns projetos? É os meus colegas de trabalho que me pedem desesperadamente ajuda? e como faço para cumprir os meus compromissos?
Isto é a rotina diária, sem fins de semana nem feriados.
Que falta me faz sair de casa, simplesmente para beber um café no sítio do costume, sem o meu dia a dia actual a perseguir-me. Vestir uma roupa diferente, arranjar-me... preciso sentir algo diferente por uns momentos, por umas horas.
Mas parece que não dá. Sinto que não dá.